Apenas 0,28% das pessoas que receberam vacinas no DF apresentaram reações

Desde o início da vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal, em 19 de janeiro, a Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS/SES) registrou, pelo menos, 282 casos de reação aos imunizantes. Isso equivale a cerca de 0,28% das 97.793 pessoas vacinadas na capital federal. Os relatos são de sintomas considerados leves, como vermelhidão e/ou dor no local da aplicação da dose, dor de cabeça e febre. Até o momento, nenhum efeito grave foi comunicado. Ao todo, o DF recebeu 125.160 doses da vacina CoronaVac — produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac — e 41,5 mil doses da Covishield (Oxford/AstraZeneca). Para este sábado (7/2), o governo distrital espera a chegada de mais 60 mil unidades da CoronaVac. No entanto, fontes da Secretaria de Saúde temem que a remessa seja menor.

Especialistas explicam que as ocorrências reportadas pela população são comuns em qualquer outra vacina. O professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez ressalta que as reações críticas são raras e, as leves, tratáveis e registradas em uma parcela muito pequena da população. “Os sintomas graves podem afetar os sistemas imunológico, cardíaco, vascular e respiratório, entre outros, causando arritmia e encefalite, por exemplo. Porém, reforço que são raros e não invalidam a segurança das vacinas, uma vez que foram aprovadas pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária)”, completa.

Mesmo assim, tanto a Vigilância em Saúde quanto os pesquisadores reforçam a necessidade de a população informar às equipes de vacinação sobre qualquer reação, por mais branda que seja. Isso deve ser feito no local onde a pessoa recebeu a dose, e é importante para o monitoramento da segurança da vacina. “O procedimento faz parte da rotina da farmacovigilância e garante a continuidade da aplicação do imunizante no país”, explica Sanchez.

Acamado em home care, o morador do Guará André Silva Júnior, 60 anos, recebeu a primeira dose da vacina contra a covid-19 em 27 de janeiro. Ele relata que sentiu algumas reações após a aplicação. “Tive moleza e sono ao longo daquele dia. Também fiquei com a boca amarga. Mas passou pouco tempo depois”, conta. “Vou esperar a segunda dose para ver se melhora o comportamento do corpo em relação à vacina. Mas me sinto muito melhor hoje”, acrescenta André.

Cuidadora do idoso há dois anos, Verônica de Araújo Ramos, 39, teve sintomas parecidos. “Optaram por me vacinar, porque saio muito de casa e sempre estou exposta ao vírus. Senti um calor estranho no corpo, e senti moleza. Era como se fosse um calafrio. Tanto que o André suava de frio. O estranho é que a gente aferiu a nossa temperatura, que mostrou 35,6°C, então não tivemos febre. Senti falta de apetite também. Mas, os nossos sintomas duraram dois dias após tomar a vacina”, lembra a moradora do Recanto das Emas.

Investigação

Todos os casos que chegarem ao conhecimento do governo serão investigados para comprovar se, realmente, têm relação com o evento adverso pós-vacinação (EAPV). Adriana Veras, 49 anos, é profissional de saúde e relata que, cinco dias após receber o imunizante contra a covid-19, começou a apresentar alguns sintomas leves. “Meu corpo ficou mole, senti dor de cabeça, cansaço e coriza. Durou um dia só, depois fiquei bem”, detalha.

Moradora de Águas Claras, ela não foi infectada pelo novo coronavírus e garante que vai tomar a segunda dose da vacina, marcada para 24 de fevereiro, apesar da reação adversa que surgiu na primeira aplicação. “São sintomas comuns e que podem aparecer após a vacinação. Continua sendo muito importante se vacinar. É uma forte frente de combate ao vírus”, ressalta Adriana.

Corrida contra o tempo

Vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Alexandre teve covid-19 em abril do ano passado e está entre os profissionais de saúde imunizados no começo deste ano. A dor no local da vacina durou três dias. Já os sintomas da covid-19, persistiram por cerca de 10 dias. “Tive febre alta, dor no corpo, queda de saturação e tosse. Mas, me recuperei sem sequelas”, conta.

Alexandre, alerta que, quanto mais rápido o governo promover a vacinação em massa, mais cedo conseguiremos interromper a cadeia de transmissão do vírus. “O efeito transcende o indivíduo vacinado. Ele protege a si e deixa de ser vetor para outras pessoas. Assim, acaba protegendo quem ainda não recebeu a dose”, explica o infectologista.

Como paciente e especialista em doenças infecciosas, ele ressalta a segurança dos imunizantes contra a covid-19 e explica que, nenhum deles é produzido a partir do vírus vivo, como são os casos das vacinas para a febre amarela e sarampo. Por isso a população pode ficar tranquila pois, os efeitos colaterais são poucos e perfeitamente esperados. “São um sinal de que o sistema imunológico do organismo está respondendo à vacina, produzindo anticorpos, que é o que se busca”, pondera Alexandre.

Na avaliação dele, o problema é que o governo brasileiro atrasou as tratativas para a compra das vacinas, e faltam doses para imunizar até mesmo os grupos prioritários. Nos países onde a imunização contra o novo coronavírus está avançada, os números de contágio e de mortes caíram rapidamente. “Temos o exemplo de Israel. Lá, eles já tiveram redução de casos num período bem curto, de duas semanas após o início da vacinação”, cita.

Reforço

O início da aplicação da segunda dose da vacina CoronaVac contra a covid-19 terá início na segunda-feira (8/2) para os profissionais de saúde que atuam na linha de frente e demais pessoas que fazem parte do primeiro grupo prioritário.

As doses estão reservadas na rede de frio central do Distrito Federal, por isso, há a garantia de que todos vão receber. O próximo grupo etário a receber as vacinas será o dos idosos entre 75 e 79 anos, no entanto, não há uma data definida para início da aplicação.

4,6 mil mortos

Segundo o Correio Braziliense, nas últimas 24 horas, o Distrito Federal registrou 624 novos casos e nove óbitos pela covid-19. No total, são 280.026 registros da doença e 4,6 mil mortes. Os dados são da Secretaria de Saúde. A média móvel de casos registrou queda de 20,6% em relação aos últimos 14 dias e chegou a 620.

Para saber mais

Efeitos comuns

Febre, dor e/ou vermelhidão no local da aplicação e dor de cabeça são efeitos comuns e esperados em qualquer tipo de vacinação. Eles mostram que o corpo recebeu o antígeno ou o vírus inativado e está reagindo a ele, criando os anticorpos. Podem e devem ser tratadas com remédios simples e focados nos sintomas apresentados.

Foto: Thomas Peter.