O visitante que chega ao gabinete 216, do Anexo 4 da Câmara, tem a sensação de entrar em um Maracanã lotado. Um painel com a foto do estádio, repleto de torcedores do Flamengo em dia de jogo, toma toda a parede atrás da mesa do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP). Misturado com a imagem do público nas arquibancadas, Frota esbraveja dali contra o presidente Jair Bolsonaro, sem meias palavras. Depois de fazer campanha junto com Bolsonaro em 2018, o hoje deputado tucano é inimigo declarado do presidente da República. “Charlatão bom de lábia”, “traidor”, “mentiroso” e “despreparado” são alguns dos adjetivos utilizados por ele para se referir ao ex-capitão do Exército nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco. “Farei de tudo para Bolsonaro descer a rampa”, avisa.
Candidato a presidente da Câmara, Frota promete, caso seja eleito, despachar no mesmo dia os pedidos de impeachment contra o presidente, engavetados por Rodrigo Maia (DEM-RJ). Também diz que designará a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), para comandar a comissão processante. “Bolsonaro cometeu mais crimes que Lula, Dilma e Collor juntos”, justifica. No vídeo abaixo, Frota dispara contra o Centrão, bloco informal de partidos de centro e direita que dá sustentação a Bolsonaro no Congresso. Para ele, o líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), que tem o apoio de Bolsonaro para presidir a Câmara pode vir a ser o seu algoz.
“O Centrão quer dinheiro, cargo, poder e status. Não quer confusão, é igual traficante, que não quer que vagabundo fique roubando na área dele, porque vai prejudicar o negócio dele”, diz. Para ele, Bolsonaro correrá maior risco de ser cassado caso Lira vença a disputa. “A primeira parcela que o governo deixar de pagar, o Centrão vai esperar cinco dias. Não veio, vai a multa. Não pagou a multa… o Centrão é igual agiota. Os caras vão cobrar forte”, afirmou.
Na mesma entrevista, Frota diz ter sido enganado por Bolsonaro e acusa o presidente de usar o mandato apenas para “limpar as sujeiras” dos filhos e de incorrer em práticas que condenava. Segundo ele, Bolsonaro sobrevive politicamente graças ao ódio de uma parte da população pelo PT que alimenta uma “seita” de apoiadores. “Os caras têm uma raiva do PT muito grande. É tão grande que o cara prefere morrer de fome ao lado do Bolsonaro do que entender que Bolsonaro está seguindo o caminho que ele disse que jamais seguiria”
Foto: Edson Sardinha.