O pico do dólar, que atingiu R$ 5,70 no início deste mês, é uma questão, por enquanto, superada e a moeda americana tende a se aproximar das expectativas para o ano de 2024, avaliam analistas econômicos ouvidos pelo g1.
Os especialistas, contudo, alertam que a cotação do dólar depende da situação das contas públicas. Investidores estão atentos às ações do governo e aguardam medidas de contenção de gastos.
Embora não deva impactar na indústria e no comércio, a alta do início de julho da moeda dos Estados Unidos foi considerada no reajuste do preço da gasolina pela Petrobras (leia mais aqui).
Segundo Volnei Eyng, CEO da gestora MultiPlike, o patamar alto do dólar foi algo “momentâneo”.
Eyng reforça que, por ter sido um período curto, os empreendedores estavam protegidos por seguros ou preferiram não adquirir produtos. Ou seja, a alta na moeda americana não deve se refletir no preço dos produtos.
“O dólar deve voltar para o voo de cruzeiro em torno de R$ 5,20, R$ 5,25, e esse momento aí não vai gerar impacto”, declarou.
O analista ressalta que a previsão do relatório “Focus” do Banco Central, que traz as expectativas do mercado financeiro para indicadores econômicos, aponta a cotação média do dólar para R$ 5,20 ao final de 2024.
“Não vejo grandes impactos. E foi um momento curto. Dentro do ano, é um impacto pequeno”, resumiu.
Falas de Lula
O economista da Rio Bravo Investimentos, José Alfaix, diz que o cenário de alta do dólar estava associado ao momento político, com incerteza sobre as contas do governo e falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
“Agora a gente já vê que muito da ‘poluição’ da moeda eram ruídos políticos e fiscais, que já foram revertidos até certo ponto. Podem ser ainda mais, caso o cenário externo continue a se mostrar favorável. Então, é algo que preocupa sim, mas tem impactos limitados”, declarou.
O dólar bateu R$ 5,70 no dia em que o presidente Lula fez ataques a Campos Neto e chegou a dizer que havia um “jogo de interesse especulativo” contra o real. Antes disso, o petista já tinha dito que não precisava prestar contas ao mercado financeiro e a “ricaços”, mas, sim, aos mais pobres.
Posteriormente, Lula foi alertado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e por integrantes da equipe econômica do governo de que as falas poderiam gerar um aumento da inflação. Diante disso, o presidente recuou, mudou de tom, e passou a dizer que tem compromisso com o controle de gastos.
Apesar da retomada da tendência de estabilidade do dólar para o ano, outros fatores devem ser levados em consideração: a safra deve ser menor que a de 2023 e a tragédia no Rio de Grande do Sul também deve impactar a economia.
Alta da gasolina
Com o pico do dólar no início do mês, a Petrobras anunciou um reajuste de 7% no preço da gasolina a partir da última terça-feira (9).
“Ele [o aumento] tem dois impactos. Não é muito popular, tem impacto inflacionário, porém o mercado gostou muito”, declarou Eyng.
O executivo destaca que o momento de reajuste foi importante por se tratar de uma nova gestão na Petrobras, comandada por Magda Chambriard, o que aumentou a confiança dos investidores na companhia.
O especialista em combustíveis da consultoria Argus, Amance Boutin, explica que o pico do dólar acentuou uma defasagem já existente no preço da gasolina.
“No auge do pico de preços, estávamos com uma diferença no exterior de R$ 0,78 por litro, então começou a ficar mais urgente ali para fazer esse reajuste”, declarou.
Ele ressalta que o reajuste da Petrobras não chegou a igualar o valor da gasolina no Brasil com o preço no exterior, “mas deu um sinal para o mercado de que [a Petrobras] iria continuar acompanhando”.
O reajuste na gasolina é um dos fatores considerados no cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – indicador da inflação.
Outro combustível que tem impacto inflacionário é o diesel. Isso porque a maior parte dos produtos e alimentos são transportados no Brasil por caminhões, que usam o óleo diesel. O combustível é, portanto, um dos componentes de preço dos produtos.
Embora haja defasagem no diesel, a Petrobras não reajustou o preço do combustível. “A questão do diesel tem essa particularidade de estar mais atrelado à inflação. A gasolina também, mas um pouco menos, até porque no Brasil você tem a alternativa do etanol”, declarou Boutin.
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