O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) se irritou com críticas feitas contra ele em grupos de Whatsapp do MDB. Durante o feriado de Páscoa, o parlamentar foi chamado de “escroque” por um membro da militância do partido e buscou impedir as manifestações, por meio de uma notificação extrajudicial.
Além de aumentar a exposição sobre a crítica, a ação do deputado gaúcho acabou gerando respostas ainda mais ríspidas de membros do MDB, e mesmo do manifestante, que em nova peça extrajudicial dobrou a aposta e pediu que Osmar Terra provasse que não é um “escroque”.
O motivo original da crítica foi o pedido de afastamento do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), feito pelo Ministério Público do Pará (MPPA). O caso, discutiram os militantes, poderia incomodar o Conselho de Ética do partido.
Na mesma leva, foi levantada a questão de que Osmar Terra ainda não foi levado ao órgão julgador do partido pelos seus comentários negacionistas sobre a pandemia de covid-19. Aí então teria nascido a crítica, feita por Bruno Kafka, que integra o partido em Curitiba.
“Ser assessor de um escroque igual esse Osmar Terra deve ser um dos trabalhos mais degradantes do país”, disse Bruno, o militante do MDB que é autor da mensagem. “Meus pêsames ao assessor, caso seja um assessor que leia as mensagens.”
Após o parlamentar apresentar a notificação extrajudicial, Bruno apresentou uma contra notificação, com o objetivo de reafirmar seus pontos.
“Venho por meio desta notificação comprovar que o Deputado é, sim, um escroque”, escreve Bruno. E abre o caminho para justificar sua posição: “Para isso, é necessário lembrarmos a atuação do Deputado, que é médico, conforme frisado com muita veemência em sua notificação, frente à pandemia.”
O foco são as afirmações de Osmar Terra a respeito da covid-19, desde os primeiros casos da doença no Brasil, há treze meses. Desde então, Terra buscou minimizar, sem comprovação em fatos ou análises de especialistas, o poder destrutivo da doença – a ponto de ser o parlamentar que mais publicou fake news no início da pandemia.
Em um de seus pronunciamentos mais célebres, o deputado disse, em março de 2020, que a covid-19 não mataria mais que a H1N1 no país, que tirou a vida de 2.098 pessoas. Hoje, o país tem quase o dobro destas mortes por dia, e passou das 330 mil mortes pela doença.
Muito ligado ao presidente Jair Bolsonaro (de quem foi ministro da Cidadania), Terra foi um dos vetores do discurso negacionista que dificulta a campanha de combate à pandemia. Mesmo depois de se recuperar da doença, o deputado manteve o discurso, inclusive culpando governadores e o lockdown pelo agravamento da doença. Epidemiologistas e especialistas em saúde pública apontam o contrário.
O Movimento Democrático de Base, ligado ao partido, saiu em defesa do militante. “Seguindo os passos de Jair Bolsonaro, de quem é seguidor inconteste, o deputado Osmar Terra resolveu intimidar jovens militantes do MDB em um grupo de WhatsApp da militância”, resumiu o coletivo. “O Osmar Terra não representa o MDB. Não representa nossa história, nem o que defendemos e deve trilhar caminho diverso dos que defendem a democracia e a Constituição Federal! Seu lugar não é no MDB”.
O Congresso em Foco buscou a assessoria do deputado para esclarecer dúvidas sobre o tema e obter o posicionamento de Osmar Terra, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
A contra notificação feita por Bruno Kafka contra o parlamentar termina com uma provocação. “Acredito que está devidamente comprovado que a utilização do adjetivo ‘escroque’ e seus derivados ‘patife’, ‘pilantra’, ‘traiçoeiro’ e ‘embusteiro’, são perfeitamente cabíveis para o Sr. Osmar Terra”, escreve. O documento pede que o deputado comprove que tais definições não sejam verdadeiras.
Foto: Sérgio Lima.