O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) investiga se o secretário de Saúde de Pires do Rio também “furou a fila” da vacinação contra a Covid-19. O gestor da pasta pediu exoneração do cargo após ceder à “mulher da vida dele” uma dose da CoronaVac, mesmo sem ela estar entre as pessoas que devem ser imunizadas com prioridade.
“Vamos investigar se o próprio secretário furou a fila e tomou a vacina. Qualquer outra pessoa que tenha burlado essa fila poderá ser responsabilizada pelo MP”, disse o promotor de Justiça Marcelo Borges Amaral.
O G1 tenta contato com o investigado, Assis Silva Filho, por telefone, desde a última sexta-feira (22), quando ele admitiu ter vacinado a esposa, mas as ligações não foram atendidas. A reportagem também enviou mensagens por meio de redes sociais e aguarda retorno.
‘Furada de fila’
Na última quinta-feira (21), Assis fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais pedindo desculpas por ter, no dia anterior, priorizado a esposa na vacinação contra a Covid-19. Segundo ele explica no vídeo, a atitude foi tomada por zelo pela mulher que o acompanha no trabalho (assista acima).
“[A vacinação dela] foi com intuito de resguardar e preservar a saúde e a vida da mulher da minha vida. Sou capaz de dar minha própria vida por ela”, afirmou.
O Ministério Público abriu um canal para denúncias de desvio de vacinas por meio do MP Cidadão ou pelo telefone 127. Segundo o órgão, quem desrespeitar as regras estabelecidas pelo Ministério da Saúde poderá ser responsabilizado por improbidade administrativa e infração sanitária.
Afastamento e exoneração
Após o caso começar a ser investigado pelo MP, o órgão pediu à Justiça o afastamento do secretário do cargo, o que foi concedido ainda na sexta-feira (22).
No domingo (24), o secretário pediu a exoneração do cargo à prefeita da cidade, que assinou acatando a solicitação.
Até as 10h40 desta segunda-feira a reportagem não havia recebido retorno da administração municipal a respeito da publicação em Diário Oficial da saída dele do cargo.
O MP passou a ter acesso ao cadastro de vacinados para cruzar os dados de quem recebeu a dose da CoronaVac com os nomes de quem está na lista do grupo prioritário nesta primeira etapa, a fim de identificar as “furadas de fila” na campanha de imunização em Goiás.
Ao menos outras duas cidades goianas registraram casos de “furada de fila”, em que pessoas que não estão nos quatro grupos prioritários são imunizadas: Mineiros e Santa Helena de Goiás, ambas no sudoeste goiano.
A subprocuradora-geral de Justiça do Ministério Público de Goiás, Laura Maria Ferreira, afirmou que o plano de imunização tem que ser cumprido e que, caso contrário, o gestor responsável pela “furada de fila” pode ser punido.
“[São crimes] que podem ser tipificados como abuso de autoridade para o gestor, como a famosa ‘carteirada’. Isso não pode acontecer “, disse.
Na quinta-feira (21), a presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Goiás (Cosems), Verônica Savatim, falou sobre o risco de desrespeitar a lista de prioridades.
“As doses vieram específicas. […] O grande risco é você deixar de vacinar aquele grupo que ficou definido e vacinar outros que não estavam pactuados. O profissional de saúde, por exemplo, está muito exposto, independentemente de onde estiver”, pontuou.
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