A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, falou em entrevista ao Congresso em Foco sobre os motivos que levaram o partido a apoiar Baleia Rossi (MDB-SP) na disputa pela presidência da Câmara.
De acordo com ela, ainda que não haja menções claras no documento escrito pela oposição, as análises de impeachment continuam sendo cobradas pelo grupo de partidos que apoia o deputado do MDB.
“Ele está lá no [ponto da carta] 3.6. Têm de ser analisados os mecanismos previstos na Constituição que podem refrear as investidas do governo e que possam ser mecanismos de controle, como as CPIs, decretos legislativos, convocação de ministros e inclusive a avaliação dos processos por crime de responsabilidade de omissão ou ação sobre o povo que recaiam sobre membros do Executivo, aí está incluído o impeachment”.
O PT decidiu por uma margem apertada, de 27 a 23 a votos, endossar a candidatura de Baleia Rossi à presidência da Câmara. Gleisi, que foi um dos 27 votos pela aliança com Baleia, minimizou a divisão na sigla e disse ao site que todos da bancada estão unidos contra Arthur Lira (PP-AL).
“A maioria que falou pela defesa da candidatura própria, falou se comprometendo em estar com Baleia no segundo turno, queria uma candidatura de primeiro turno, mas todos contra a candidatura de Bolsonaro.”
Ela completou: “O que estava em discussão era o momento, se era agora ou se era mais à frente. Nós avaliamos que mais à frente nós podíamos perder espaços de força nesse sentido, que era melhor a gente fazer um compromisso agora, ter uma pauta agora para poder negociar e garantir muitas coisas”.
Leia a íntegra da entrevista:
Congresso em Foco: por que a análise impeachment não entrou de forma clara nos compromissos?
Gleisi Hoffmann: ele está lá no [ponto da carta] 3.6. Têm de ser analisados os mecanismos previstos na Constituição que podem refrear as investidas do governo e que possam ser mecanismos de controle, como as CPIs, decretos legislativos, convocação de ministros e inclusive a avaliação dos processos por crime de responsabilidade de omissão ou ação sobre o povo que recaiam sobre membros do Executivo, aí está incluído o impeachment.
Não tiramos isso do nosso objetivo, a gente quer que os pedidos de impeachment sejam avaliados como processos que vão se contrapor a crimes cometidos por Bolsonaro ou a quem qualquer seja do Executivo. Isso é um mecanismo previsto na Constituição, então todos esses mecanismos vão ser mantidos em avaliação.
O que levou o PT a apoiar Baleia Rossi?
O que nos levou foi uma reflexão junto com os partidos de oposição. O que nós tínhamos pensado era tirar uma candidatura própria da oposição, com todos os partidos, mas tanto o PSB, PTD, PCdoB e Rede avaliaram que nós não deveríamos porque a gente teria uma candidatura e isso poderia levar um candidato do governo, com racha na base desses partidos de oposição, a ganhar no primeiro turno.
É mais importante a gente ter compromissos da candidatura do Baleia agora conosco, que nós tínhamos uma força de unidade dentro do bloco, do que arriscar ter uma candidatura para lá na frente retirar e já ter disperso esse bloco. Avaliamos que isso era melhor e por isso a gente fez essa carta compromisso que apresentamos.
Além dos pontos de procedimentos, de tocar a Câmara, governar a Câmara, também tem pontos políticos. O ponto 4, mais importante para nós, a questão dos direitos do povo, a renda emergencial, a questão da vacina, de ações para o emprego, agricultura familiar, para ter produção de comida. Achamos que seria mais importante usar essa força que nós tínhamos para avanço a favor do povo.
O PT decidiu pelo apoio a Baleia por 27 a 23 votos. Tem risco do partido ficar dividido na eleição para presidente da Câmara?
A maioria que falou pela defesa da candidatura própria, falou se comprometendo em estar com Baleia no segundo turno, queria uma candidatura de primeiro turno, mas todos contra a candidatura de Bolsonaro. O que estava em discussão era o momento, se era agora ou se era mais a frente. Nós avaliamos que mais a frente nós podíamos perder espaços de força nesse sentido, que era melhor a gente fazer um compromisso agora, ter uma pauta agora para poder negociar e garantir muitas coisas. Além de impedir os retrocessos, garantir algumas pautas que para nós é importante do ponto de vista do povo.
Ainda é possível alguma candidatura da oposição?
O Psol ainda não decidiu, é possível que o Psol possa apresentar alguma candidatura, mas a gente não sabe, eles ainda vão ter reunião, estão fazendo a discussão.
Sobre 2022, o PT quer Lula candidato a presidente?
Vamos ter agora uma reunião de planejamento do partido em janeiro e vamos começar a discutir esse processo para 2022, mas é óbvio que o Lula é nosso grande nome, o nome mais forte e expressivo que nós temos. Mas temos que ver a situação do processo dele e se ele realmente quer também ser o nosso candidato, gostaríamos que fosse o candidato, que acho que pode fazer enfrentamento à direita, conversa com o povo, tem liderança, ele é o nome.
O PT vai tentar a candidatura dele e ir até os últimos recursos como aconteceu em 2018?
Não discutimos isso ainda, não tiramos a estratégia ainda, vamos fazer isso a partir do início do ano.
Foto: Alessandro Dantas.