Em agosto, a enfermeira Aline Oliveira Gama, 31, foi chamada para atender um paciente trans que tinha sido levado para uma unidade de saúde, de Recife (PE), por agentes comunitários de saúde. Os profissionais o levaram para fazer um teste de gravidez, já que há algum tempo o homem não se sentia bem. Ao fazer o exame, o paciente descobriu uma gestação de cinco meses de gêmeos idênticos, dois meninos. 

“Não foi planejado. Ele começou a chorar e disse que não poderia ficar com as crianças”, relata a enfermeira em entrevista a CRESCER. Ela explica que paciente contou que não suspeitava da gravidez, pois não ganhou tanto peso e pensava que seu mal-estar era devido a uma verminose ou gastrite.

Aline conta que o gestante estava em uma situação de grande vulnerabilidade, com um histórico de depressão, tentativas de suicídio, abandono familiar e uso de drogas. Por isso, fazer um acolhimento com cuidado era essencial. No início, a profissional de saúde relata que foi um desafio. “Na identidade dele, ainda não estava o seu nome social, então, as pessoas sempre o chamavam pelo nome feminino ou de mãe, isso o incomodava”. 

Durante o atendimento, a enfermeira perguntou o nome social do paciente e conseguiu conversar melhor com ele, que contou que morava sozinho em uma casa pequena e já tinha sido vendedor de flores e motorista de aplicativo. Por dois anos, ele chegou a fazer a terapia hormonal, mas parou. 

A princípio, o gestante não queria ficar com as crianças. Então, a profissional de saúde começou a verificar quais seriam os meios legais para que ele entregasse os bebês para adoção. No entanto, após um tempo, ele disse que teria a ajuda da mãe para cuidar dos gêmeos, por isso não iria mais entregá-los para a adoção. “É legal o posicionamento dele, ele diz que não vai ser mãe, vai ser pai”. 

Aline relata que agora o paciente trans irá receber um atendimento clínico e psicológico na rede de saúde e possivelmente no futuro fará uma uma histerectomia para a retirada do útero e uma mastectomia. “Ela disse que não se sente confortável em amamentar e nós percebemos já o incomodo dele com os seios crescendo por causa do leite. É um sofrimento para ele”. Segundo a enfermeira, é importante que haja uma conscientização dos profissionais de saúde para o atendimento de pessoas trans, pois não há muita informação a respeito. “É uma desconstrução constante, mas quando tratamos com respeito, tudo flui melhor”. 

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