A covid-19 está fazendo estragos no mercado de trabalho e provocou R$ 52 bilhões em perdas salariais. Esse é um dos dados do levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comparando o impacto da pandemia no mercado de trabalho, divulgado nesta quinta-feira (02/07). 

De acordo com o estudo do Ipea, a renda média dos trabalhadores formais encolheu 18%, ou seja, eles receberam 82% do previsto inicialmente. Os trabalhadores informais e com menor escolaridade foram os mais afetados. 

Pelas contas de Sandro Sacchet, pesquisador do Ipea e responsável pelo levantamento, a perda da massa total de rendimentos efetivos dos trabalhadores formais foi de R$ 34 bilhões em maio, somando R$ 158 bilhões. “Se considerarmos essa queda na renda salarial junto com as perdas de quem foi demitido em maio, chegamos de perda salarial em torno de R$ 52 bilhões”, destacou. Essa essa diferença ocorreu sobre a estimativa de R$ 210 bilhões para a renda total esperada sem o impacto da pandemia no mercado de trabalho. 

O estudo levou em consideração os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e da massa de rendimentos captada na PNAD Covid-19, ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As perdas salariais foram mais expressivas entre os trabalhadores do Sudeste, de acordo com Sacchet. “A região foi a mais afetada pela pandemia em maio. É provável que esse quadro mude nos próximos meses se houver uma evolução maior da covid-19 em outras regiões que ainda não alcançaram o pico de contágio da doença”, explicou.

Segundo o Correio Braziliense, o estudo comparou as rendas em diferentes grupos demográficos e constatou ainda que os trabalhadores por conta própria perderam 40% da renda enquanto quem tinha carteira assinada recebeu 92% do anteriormente previstos. Os funcionários públicos tiveram 95% dos respectivos rendimentos previstos.

O estudo do Ipea também comparou a renda domiciliar e os impactos do auxílio emergencial de R$ 600 destinado aos trabalhadores informais e mais pobres. “O que verificamos é que o auxílio emergencial permitiu manter uma renda apesar da pandemia, mas o impacto sobre a massa de rendimento não foi suficiente para compensar as perdas. Pelas nossas estimativas, o auxílio emergencial conseguiu compensar cerca de 45% de toda a perda da massa salarial no mês de maio”, destacou. Ele considerou o valor pago pelo benefício no quinto mês do ano, de R$ 23,5 bilhões, para os cálculos. 

Sacchet reconheceu a importância do socorro emergencial que foi ampliado pelo governo de três para cinco parcelas no combate à desigualdade. “O auxílio emergencial tem ajudado a evitar uma explosão de desigualdade , porque a pandemia foi muito grave. Apesar de ele não suficiente para minimizar as perdas salariais, esse benefício está sendo fundamental para os domicílios da população mais pobre”, destacou.

Pelos cálculos da equipe econômica, o impacto fiscal do auxílio emergencial passará de R$ 150 bilhões para R$ 254 bilhões com o aumento das parcelas.

Ao comparar a evolução do índice de Gini das rendas individuais e domiciliares do trabalho, o estudo do Ipea constatou que, no primeiro trimestre de 2020, a desigualdade dos rendimentos do trabalho caiu para 0,525, no caso da renda domiciliar, e 0,506 no caso da renda individual. No quarto trimestre de 2019, esse indicador estava em 0,533 e em 0,509, respectivamente e vinha subindo, como reflexo do aumento da desigualdade nos últimos anos devido à recessão. “O aumento do Gini até o fim de 2019 deve-se à retomada da ampliação da desigualdade entre os extremos da renda, além da expansão da parcela da população no setor informal da economia que apresenta maior desigualdade”, destacou o autor do estudo.

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