A taxa de ocupação de leitos destinados ao tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19 na Paraíba já tem dado sinais de um possível colapso. Em Campina Grande, onde a quantidade de casos confirmados mais que dobrou em uma semana, passando de 108, no último dia 11, para 299 casos até a segunda-feira (18), a ocupação de leitos preocupa, e pacientes com suspeitas de infecção pelo novo coronavírus reclamam de negativas de atendimento.

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro do Alto Branco é a referência para pessoas que apresentem sintomas compatíveis à Covid-19 em Campina Grande. Mas de acordo com uma jovem de 24 anos de idade, que terá sua identidade preservada, o local lhe negou atendimento pelo fato de apresentar sintomas leves, mesmo após seu irmão ser diagnosticado com Covid-19 e encaminhado ao Hospital Pedro I, referência para atendimento de casos graves.O prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) chegou a comentar em uma transmissão ao vivo nas redes sociais na segunda-feira (18), sobre a alta demanda de atendimentos na UPA do Alto Branco.

O local registrou aglomeração de pessoas na última semana, e precisou passar por desinfecção para evitar possíveis contágios pelo novo coronavírus, enquanto o Hospital Pedro I, ainda segundo o prefeito, tinha 25 das 30 UTIs ocupadas na tarde da segunda (18). As unidades hospitalares da cidade atendem pacientes de pelo menos 69 municípios paraibanos.De acordo com o boletim epidemiológico divulgado diariamente pela Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande, a taxa de ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) na cidade estava em 60% até a segunda (18), enquanto os leitos de enfermaria têm 57% de ocupação.

A quantidade, no entanto, diverge dos números apontados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) no último boletim, onde consta ocupação de 83% dos leitos de UTIs de Campina Grande.A Secretaria Municipal de Saúde de Campina Grande informou ao JORNAL DA PARAÍBA que a quantidade de leitos mencionadas nos índices de ocupação publicados nos boletins, consideram apenas os leitos das três unidades hospitalares do Plano de Contingência para tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Ou seja, a taxa de ocupação de leitos, segundo a Saúde, é de 60% considerando o Hospital Pedro I, o Hospital da Criança e do Adolescente, e a Maternidade do Isea.

O 42 leitos disponíveis no Hospital de Campanha da cidade, que foi inaugurado semana passada e habilitado ao funcionamento pelo Ministério da Saúde na tarde da segunda (18), ainda não estão sendo utilizados. Além do Hospital de Campanha, os 24 leitos do Hospital Universitário Alcides Carneiro, reaberto também na segunda-feira (18) para uma possível necessidade, ainda não receberam pacientes, bem como a ala pré-reservada no Hospital de Emergência e Trauma.Em reposta ao JORNAL DA PARAÍBA, a Secretaria de Saúde de Campina Grande assegurou que está realizando o atendimento e triagem clínica de todos os pacientes que procuram a UPA do Alto Branco, e informou ainda que pelo menos 150 testes rápidos são aplicados diariamente em pacientes sintomáticos que procuram a unidade.

A pasta explicou, ainda, que nem todas as pessoas têm acesso ao teste porque há uma janela imunológica, e o exame só deve ser feito a partir do décimo dia dos primeiros sintomas para não correr o risco de apresentar resultado falso negativo. O atendimento semanal da UPA do Alto Branco saltou, segundo a Saúde, de 400 para 900. 

Curva de contágio

Segundo o Jornal da Paraíba, em uma semana, a quantidade de casos confirmados de Covid-19 em Campina Grande aumentou cerca de 176%, passando de 108 para 299 até a segunda-feira (18). A taxa de ocupação de leitos de enfermaria também aumentou, e de acordo com os dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde da cidade, passou de 18% para 57%, no mesmo período. A cidade registra 11 mortes pela Covid-19, e é o terceiro município paraibano com mais pessoas infectadas pelo novo coronavírus, até esta terça-feira (19), ficando atrás de João Pessoa e Santa Rita.

A quantidade de bairros com casos de Covid-19 em Campina Grande, solicitada pelo JORNAL DA PARAÍBA à Secretaria de Saúde do município, ainda não foi disponibilizada. No último dia 24 de abril, havia registros de Covid-19 em pelo menos 13 bairros da cidade.

Combate à Covid-19 na região

Devido a crescente quantidade de casos de Covid-19 na região de Campina Grande, o prefeito da cidade, Romero Rodrigues (PSD) se reuniu por meio de videoconferência na tarde desta terça-feira (19) com outros 41 prefeitos de cidades da Macrorregião da Saúde que possuem Campina Grande como município-referência.

Na ocasião, os gestores discutiram questões operacionais para atendimento dos pacientes vindos de cidades menores.O prefeito de Campina Grande também expôs a estrutura de atendimento das unidades hospitalares da cidade, como o total de leitos disponíveis, e pediu para que os demais gestores intensifiquem as medidas de isolamento social, com o intuito de não demandar além da conta o sistema de saúde do município, que poderia entrar em um colapso.

Os municípios se comprometeram em facilitar a comunicação e assim, otimizar o atendimento e os procedimentos realizados em pacientes de outras cidades. A aplicação da hidroxicloroquina, posta em pauta por Romero Rodrigues na última semana, também foi destacada, e os gestores esperam realizar novos encontros virtuais para desenvolver ações integradas.

Outras medidas restritivas, como a proibição de feiras de trocas e obrigatoriedade do uso de máscaras em táxis e mototáxis, foram anunciadas pela prefeitura de Campina Grande e devem ser publicadas em decreto.

O comércio e outros serviços considerados não essenciais permanecem fechados na cidade, e motoristas e clientes de transportes por aplicativo devem obedecer regras sanitárias a partir desta quarta-feira (20).

Foto: Reprodução Google.