O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) intensificou nas últimas semanas reuniões com dirigentes do Centrão, grupo informal de partidos encabeçado por deputados do PP, PL, Republicanos, PTB, PSD e Solidariedade.

Integrantes do PP relataram ao Congresso em Foco  que o presidente ofereceu ao partido uma das vice-presidências da Caixa e o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento para Educação (FNDE), órgão do Ministério da Educação com orçamento maior que muitos ministérios – em 2019 foram R$ 55 bilhões.

De agosto a dezembro de 2019 quem comandava o FNDE era o advogado Rodrigo Dias, indicado pelo ex-ministro das Cidades Alexandre Baldy (PP-GO), hoje secretário do governador João Doria (PSDB) em São Paulo, e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). No entanto, Dias foi retirado do cargo, em mais um dos embates entre Bolsonaro e Maia.

Contra isolamento político, presidente intensifica contatos com o Centrão

Desde o início do mês,  Bolsonaro recebeu os presidentes partidários Ciro Nogueira (PP), Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicanos). Também teve audiência com os líderes na Câmara Arthur Lira (PP), Diego Andrade (PSD), Jhonantan de Jesus (Republicanos) e Wellington Roberto (PL).

Segundo o Congresso em Foco, na noite desse domingo (19), Bolsonaro transmitiu ao vivo por suas redes uma entrevista com o presidente do PTB, Roberto Jefferson. O ex-deputado, que denunciou o mensalão, mas foi condenado por participar do esquema, diz que Rodrigo Maia quer tirar Bolsonaro da Presidência da República. O ex-deputado, contudo, não apresentou provas.

O DEM também faz parte do Centrão, mas dirigentes do partido ficaram de fora das últimas reuniões. O único da sigla a ser recebido por Bolsonaro foi o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para tentar acordo com o projeto de socorro a estados.

A relação do DEM com o presidente está deteriorada devido aos ataques feitos por Bolsonaro a Maia e pela demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde. O Centrão é associado ao fisiologismo na Câmara, prática de trocas de favores para beneficiar interesses privados em detrimento dos interesses da sociedade.

Centrão vê radicalização de Bolsonaro como fraqueza e oportunidade para negociar cargos

O presidente elevou a temperatura da crise política ao participar de um ato contra o Legislativo e o Judiciário e a favor de uma intervenção militar. O movimento foi amplamente criticado por governadores, ex-presidentes, pelo Congresso e pelos partidos dos mais variados espectros ideológicos. Um deputado ligado ao governo e ao Centrão disse ao Congresso em Foco  que a aproximação com Bolsonaro vai depender do “tamanho da mordida” que o grupo de deputados quer dar, referindo-se à negociação com cargos.

Na visão dele, os congressistas viram na escalada da radicalização de Bolsonaro, que o isolou do presidente da Câmara e de ministros do STF, como uma oportunidade para negociar diretamente com o Planalto, sem intermediários.

“Bolsonaro já defendeu o coronel Brilhante Ustra, comemorou 31 de março e este grupo pela volta dos militares existe desde a campanha. Esteve em todos os movimentos de rua junto com outras correntes. Por que se importar agora? Cheiro de sangue. O Centrão entendeu a aproximação com o presidente como sinal de fraqueza dele e partiu para cima”, avaliou o deputado, que preferiu não se infentificar. Apesar de ter oferecido o comando de cargos em ministérios, Bolsonaro ainda não parece estar disposto a fazer com que os deputados tenham influência na escolha de ministros. “Quanto mais a turma avança, mais ele resiste. Ele não vai tirar foto com a velha política”, disse o congressista ouvido pelo site.

Foto: Marcos Correa.