Após o presidente da República Jair Bolsonaro dizer à rádio Jovem Pan que “está faltando humildade” ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta , ele disse que está trabalhando e não viu a entrevista do presidente.
— Não achei nada, não. Não estou sabendo de nada não. Estou trabalhando aqui.
Questionado sobre se não queria responder, disse apenas:
— OK, vamos trabalhar. Lavoro, lavoro, lavoro (trabalho, em italiano).
Na entrevista, Bolsonaro afirmou que “está faltando humildade” ao ministro e que, embora nenhum ministro seja indemissível, não pretende tirar Mandetta no meio da crise.
— Olha, o Mandetta já sabe que a gente esta se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Em algum momento, ele extrapolou. Respeitei todos os ministros, ele também. A gente espera que ele dê conta do recado. Tenho falado com ele. Ele está numa situação meio… Se ele se sair bem, sem problema. Nenhum ministro meu é indemissível — disse Bolsonaro, em entrevista a rádio Jovem Pan.
Bolsonaro também disse que, “em alguns momentos”, Mandetta teria que “ouvir um pouco mais o presidente da República”.
— Ele (ministro) tem responsabilidade, sim. Ele cuida da Saúde, o Paulo Guedes cuida da Economia, e eu entro aqui no meio para cuidar das duas áreas — disse.
Ao longo do dia, Bolsonaro se reuniu com pelo menos oito ministros no Palácio do Planalto e também no Alvorada. Nas reuniões, o presidente deu vários sinais de que está incomodado com as decisões de Mandetta à frente da pasta. Bolsonaro não deixou claro nas conversas com os ministros se pretende trocar Mandetta, mas demostrou muito incômodo quando se referia ao subordinado, o que despertou atenção de alguns ministros.
Numa das reuniões, Bolsonaro recebeu o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que ganhou respeito do presidente. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acompanhou a conversa com Barra.
Apesar das investidas constantes do presidente, familiares do ministro relatam que Mandetta nunca cogitou abandonar o cargo no governo, ou “ao menos nunca externou isso”. Mesmo nas situações mais tensas deflagradas pelos comentários de Bolsonaro, o relato é de que o ministro da saúde manteve o foco em resolver a crise causada pelo novo coronavírus.
O deputado Fábio Trad (PSD-MS), primo do ministro, diz que sair agora seria, para Mandetta, “abandonar o barco”, “covardia, falta de coragem”. Nas últimas duas semanas, o ministro dizia a aliados do DEM que cogitava sair do governo assim que a epidemia acabar, mas não antes disso — essa era sua posição antes da entrevista de Bolsonaro, relatavam pessoas próximas.
— Ele não vai pedir demissão e não vai abrir mão dos princípios dele, pelo que eu conheço de 43 anos de convívio — diz Trad.
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News Paraíba com O Globo