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Direita vê vitória emblemática das redes no caso Suzy

Seria o caso Suzy/Drauzio Varella um marco na influência das redes sociais e uma vitória sobre o jornalismo profissional?

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A direita está convencida que sim e, inebriada com o sucesso de ter arrancado um pedido de desculpas da odiada Rede Globo, começou uma feroz disputa de paternidade sobre o feito.

Para quem esteve em Júpiter e não sabe do que estou falando, o caso começou com a reportagem do Fantástico do dia 1º de março, em que Dráuzio retrata o dia a dia de presas transexuais.

Ao final, ele abraça Suzy Oliveira, uma das entrevistadas, que reclamava de se sentir solitária. Seguiu-se uma onda de solidariedade à presidiária.

Uma semana depois da entrevista, veio outra onda, em sentido contrário. Perfis ligados à direita passaram a noticiar que Suzy, que gerou tanta empatia, era uma criminosa condenada por um crime bárbaro: ter estuprado e assassinado um menino de nove anos.

As críticas a Drauzio e à Globo foram tão grandes que obrigaram o médico e a emissora a se explicar. Disseram que o foco da reportagem nunca foi o crime de Suzy, mas as condições em que detentos trans vivem.

Mas isso não evitou que pedissem desculpas, para júbilo da direita, que fez a festa nas redes sociais.

Como tuitou o perfil O Corvo:

E quem foi o responsável por colocar a grande mídia de joelhos? Aí começa um arranca-rabo.

O MBL News, agência de notícias do Movimento Brasil Livre, reivindica para si o furo.

Seu diretor, Israel Russo, diz que começou a desconfiar da história de Suzy pelo fato de ela estar presa há oito anos. “Ninguém condenado apenas por roubo ou furto fica tanto tempo na cadeia. Tinha que ser algo mais grave”, diz Russo.

O MBL News passou a buscar os autos sobre o processo dela no site do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas não conseguiu.

Foi então que um deputado obteve a papelada e repassou à agência, que ligou para o presídio e confirmou que Suzy era Rafael Tadeu, sua identidade anterior, condenado pelo crime.

Às 12h28 de domingo (8), o MBL News postou a matéria, e o assunto começou a viralizar.

“O papel das redes sociais foi muito importante. Elas fizeram um movimento orgânico, que incentivou as pessoas a buscarem informações sobre o caso”, afirma Russo.

Um aspecto curioso desse caso é que unificou a direita como há muito não se via. Entidades críticas ao atual presidente, como o MBL, e perfis bolsonaristas se jogaram na história com o mesmo ímpeto.

Russo, no entanto, vê uma nuance. “A gente não tentou demonizar o Drauzio, como outros fizeram. Apenas noticiamos o fato”, diz.

Outros contestam a primazia do MBL e dão a paternidade do furo ao site Conexão Política, ligado ao Movimento Brasil Conservador (MBC), que apoia o governo. Um deles foi o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O Conexão realmente colocou uma reportagem no ar no dia 8, mas não informa, em seu site, o horário. Não importa: bolsonaristas rapidamente começaram a acusar o MBL de tentar roubar o furo.

Tentei contato com o site e com o MBC, mas não tive resposta.

Outro a reivindicar os louros é o deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), apoiador defende o presidente. Ele também tuitou no domingo pela manhã sobre o crime de Suzy.

De perfil ativista e sem preocupação nenhuma com isenção e equilíbrio, os sites direitistas dizem que fazem jornalismo e que esse caso mostra como podem preencher um espaço deixado vazio pela grande imprensa.

O discurso recorrente é que, tomada por profissionais com simpatia pela esquerda, a grande mídia foi negligente no caso Drauzio e não fez seu trabalho direito.

Mas o que ocorreu nesse caso é tão simbólico assim?

Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP e estudioso das redes sociais, diz que nova proeminência das redes sociais é algo que veio para ficar. Mas ele vê com certo exagero a tentativa de considerar esse caso um marco.

“O que houve foi uma campanha de exploração política muito bem feita desse episódio”, afirma Ortellado, que é também colunista da Folha.

Segundo ele, há precedentes em que algo parecido ocorreu, com as redes conseguindo furar o noticiário da imprensa.
“O caso das mortes na favela de Paraisópolis é um exemplo. A imprensa cobriu de um jeito, numa linha mais próxima do que dizia a polícia, e depois vídeos foram aparecendo mudando o quadro”, declara.

Crédito imagem: Reprodução

News Paraíba com Blog Saída pela Direita, da Folha

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