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Em áudio, professor envenenado disse que denunciaria suposto esquema de propina em escola pública do DF

Em um áudio enviado a um amigo antes de morrer (ouça acima), o professor do Distrito Federal Odailton Charles Albuquerque Silva – envenenado com raticida – disse que faria uma denúncia contra a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto por suspeita de desvio de recursos.

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Segundo o G1, na gravação, o professor não cita nomes e nem detalha provas, diz apenas que vai reunir documentos (veja mais abaixo). Odailton citou suposta práticas de propina e “rachadinha” entre funcionários da escola.

O termo “rachadinha” seria uma referência ao repasse irregular de dinheiro a terceiros ou mesmo à divisão de recursos públicos.

“Está havendo racha de dinheiro, propina, para beneficiar empreiteiros”.

Em nota, a Secretaria de Educação informou que “aguarda as investigações policiais e a finalização do inquérito para se pronunciar”. A TV Globo esteve na Regional de Ensino para questionar sobre as suspeitas levantadas por Odailton, mas a equipe de reportagem não foi recebida.

A Polícia Civil afirmou ao G1 que não tinha conhecimento do áudio até a última atualização desta reportagem. O delegado responsável pela investigação, Laércio Rossetto, disse ainda que “até o momento não há suspeitos, apenas investigados no caso”.

A ida à escola

Também no áudio gravado, o professor Odailton Charles Albuquerque Silva afirmou que havia conversado com outros colegas sobre a situação. Ele disse ainda que iria à escola juntar as provas necessárias para as denúncias de propina e “rachadinha”.

“Quinta-feira eu vou lá na escola, fazer os acertos, passar os extratos bancários, e o que tem que passar.”

Pelo áudio, não é possível afirmar a data da gravação. Porém, em 30 de janeiro, uma quinta-feira, o professor foi à escola, onde teria bebido o suco oferecido pela colega que ele acusa. Na mesma data ele foi internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e morreu quatro dias depois.

Ainda na gravação, o professor explica como que reuniria provas. “Estou recolhendo uns documentos particulares, porque vou fazer uma denúncia formal contra a [Coordenação] Regional de Ensino, por conta do dinheiro que eu deixei na escola e nunca repassaram. Seguraram o dinheiro e agora estão utilizando da forma que querem, e contratando a empresa que eles querem também”, afirmou.

“Então, eu vou fazer essa denúncia e vou recolher tudo o que eu tenho de prova, de gravação, e vou arrebentar a boca do balão. […] Vou botar ‘no pau’ esse povo. Comigo vai ser tudo na Justiça. O negócio tá feio.”

Entenda o caso

Odailton Charles Albuquerque Silva morreu no dia 4 de fevereiro após ser envenenado com raticida, popularmente conhecido como “chumbinho”. A Polícia Civil investiga a hipótese de que a substância tóxica tenha sido diluída em um suco de uva, supostamente oferecido por uma colega de trabalho.

Ele chegou a ser internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) no dia 30 de janeiro, após passar mal no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 da Asa Norte. Ele foi diretor da escola por oito anos consecutivos até 2019, quando perdeu as eleições.

‘Chumbinho’

Segundo o delegado responsável pelas investigações, Laércio Rossetto, Odailton mencionou o suco de uva em áudios enviados a amigos (ouça abaixo). No entanto, a colega que teria oferecido o líquido negou, assim como um vigilante, que disse ter visto o professor tomar dois comprimidos.

A perita Flávia Pine Leite, do Instituto de Criminalística, afirma que a substância contida no raticida –aldicarb – é altamente tóxica e tem efeito rápido. De acordo com ela, a comercialização no Brasil é proibida.

Além do aldicarb, os peritos também encontraram traços de relaxante muscular nos materiais biológicos de Odailton. No entanto, não foram localizados traços do suco.

Foto: Afonso Ferreira

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