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DEM e MDB travam disputa nos bastidores pela Casa Civil

Com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, na corda bamba, o Palácio do Planalto se vê no centro de uma disputa de forças entre DEM e MDB. O Democratas, partido do titular da pasta, vai pressionar para mantê-lo no cargo, por intermédio dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Os emedebistas, por sua vez, juram, nos bastidores, que não cobiçam o posto, mas não fariam objeção a um convite ao senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso, um dos cotados à função.

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Outro sob análise é o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, ex-deputado federal pelo PSDB. No entanto, ele se sente confortável e focado na missão atual, de articular a aprovação da Medida Provisória 905, que institui a carteira de trabalho Verde e Amarela. Em meio a essa disputa, o presidente Jair Bolsonaro trabalha com a hipótese de não colocar nem Marinho nem Gomes no ministério, caso decida exonerar Lorenzoni, mas, sim, propor uma solução caseira. O sucessor estudado por ele é o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira.

A transferência de Oliveira — um amigo do presidente — para a Casa Civil seria uma forma de frear a disputa por espaços na pasta, tradicionalmente, o “coração” do governo. Os ocupantes do cargo são pessoas da mais alta confiança do presidente da República. A ideia seria fortalecer Oliveira, colocando-o em um ministério de maior status. A Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ), setor que ele também comanda, seria devolvida. Além de ter uma pessoa próxima ao seu lado, Bolsonaro faria um aceno ao DEM, de não ceder à pressão do partido, mas, também, de não lotear a estrutura com nenhuma outra legenda.

Embora a tendência seja Lorenzoni seguir na Casa Civil, ele não goza mais do prestígio de outrora. O relacionamento com Bolsonaro se estremeceu nos últimos dias, após o presidente desautorizar nomeações feitas por ele e transferir o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia. Mas Lorenzoni não pensa em pedir demissão, a menos que receba garantias de que será prestigiado pelo governo em outro ministério. A pasta da Educação chegou a ser aventada, no entanto, a ideia é que o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), vice-líder do governo na Casa, assuma o posto em caso de demissão do titular, Abraham Weintraub.

Segundo o Correio Braziliense, depois de ter dispensar o general Santos Cruz da Secretaria de Governo e o advogado Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral, Bolsonaro foi tachado de traidor. Agora, a meta é evitar as críticas e deixar que Lorenzoni faça o “serviço” por ele. “As exonerações o desgastaram muito. Hoje, ele está mais esperto. Agora, joga a corda para a pessoa se enforcar. Desidratou o Onyx e espera que se demita, mas ele não irá”, declarou um aliado.

Fritura

A fritura a Lorenzoni não é a primeira. Em junho de 2019, ele disse, em entrevista exclusiva à coluna Brasília-DF, do Correio, que o “fio” que o prende a Bolsonaro é “o do Homem-Aranha”. À época, havia perdido a chefia da articulação política, transferida para a Secretaria de Governo, e da Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ), que passou para a Secretaria-Geral. A leitura feita, então, por parlamentares, foi de que ele “sabe mais do que devia saber” do governo, destacou o aliado. “Se o Onyx cair, caem outros. Nas eleições, muitos dos ataques contra os adversários vinham dele. A estratégia de guerrilha discutida nos ‘bunkers’, tudo saía dele”, frisou.

Depois de ter resistido no cargo, não é agora que ele pensa em jogar a toalha. Ele antecipou o retorno das férias nos Estados Unidos, previsto para segunda-feira, e desembarcou, nesta sexta-feira (31/1), no aeroporto de Brasília. No terminal, disse que não considera deixar o governo. “Claro que não. Como já disse, a minha missão, com o presidente Bolsonaro, é servir ao Brasil. Mas claro que toda e qualquer decisão dentro do governo é liderada por ele”, sustentou.

É esperada uma conversa entre Bolsonaro e Lorenzoni para “discutir a relação”. Afinal, o chefe da Casa Civil deve representá-lo na sessão solene do Congresso que inaugura o ano legislativo, na segunda-feira. Os dois se reuniram, nesta sexta-feira (31/1), mas para discutir o coronavírus em uma agenda com outros ministros de Estado.

Por ora, quem faz movimentos para abafar a crise no relacionamento é o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Na tarde desta sexta-feira (31/1), no Twitter, ele postou um vídeo em que Lorenzoni se encontra com o escritor Olavo de Carvalho. “Presidente, o que o senhor precisar, é só avisar. Nós estamos com o senhor até a morte”, disse o “guru” do presidente da República.

Voos da discórdia

A crise de Onyx Lorenzoni na Casa Civil ganhou corpo durante a semana. Após irritar Bolsonaro por ter feito voos à Suíça e à Índia em aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), Vicente Santini, então número 2 do ministro, foi demitido, contratado, e demitido novamente da pasta, numa sucessão de recuos do governo que expôs o chefe do Executivo a constrangimentos nas redes sociais.

Preocupação com o Congresso

O governo espera resolver o quanto antes a situação do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Tudo o que o Palácio do Planalto deseja é não iniciar uma relação estremecida com deputados e senadores na volta das atividades do Congresso, na segunda-feira. Por isso, a intenção é mantê-lo, ao menos, durante as primeiras semanas de fevereiro. Existe também a possibilidade de que ele seja remanejado para algum outro posto, que dê visibilidade e permita que contribua com o Executivo. Caso ele consiga fazer isso, interlocutores acreditam que será possível mitigar eventuais impactos da desidratação que sofre.

A Câmara e o Senado, sob a presidência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), respectivamente, têm a resposta na ponta da língua para o governo, caso Lorenzoni seja rifado sem contrapartidas. Não são esperadas retaliações claras, mas sutis. Como os dois são os responsáveis pelas votações em plenário, consequentemente, também ditam o ritmo das apreciações de propostas de emenda à Constituição (PECs). “As duas Casas vão pressionar o governo para não demitir o Onyx. A depender da forma como isso ocorrer, o Congresso pode travar pautas”, ressaltou um interlocutor parlamentar.

Não apenas os presidentes das Casas, mas também líderes e congressistas influentes de centro atuam para evitar mais frituras a Lorenzoni. Parlamentares têm críticas ao ministro, mas são pragmáticos. Se queixam de promessas impagáveis que fez para a votação da reforma da Previdência, porém sabem que ele é o responsável por dar a assinatura final na nomeação de apadrinhados no governo. A Secretaria de Governo se encarrega de articular a destinação de emendas e cargos, no entanto, cabe à Casa Civil chancelar no Diário Oficial da União.

Os espaços no governo geram ambição entre parlamentares. Para o DEM, por exemplo, ter Lorenzoni na chefia da Casa Civil facilita os detalhes finais para nomeações. Por isso, o partido trabalha para que outra legenda não indique ninguém para o posto. Emedebistas, contudo, garantem que não têm ambição em proliferar no governo. “Para que o MDB vai querer pegar, se a autonomia é reduzida pelas ações e pitacos do Bolsonaro?”, indagou um integrante da legenda.

Foto: Grabriela Bilo

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